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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sinais da inclusão

Ainda é pequeno o índice de surdos nas universidades brasileiras. Apesar de portaria que obriga as instituições de ensino a terem em seu quadro intérpretes para passar o conteúdo das aulas.
Publicado em 15/02/2005 - 02:00

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Em busca de inclusão social plena

Acessibilidade física é o desafio
Por Renata Costa

O acesso de todos à Educação é mais do que uma meta governamental, deve ser um direito. As universidades brasileiras estão, pouco a pouco, abrindo suas portas para que isto aconteça e seja feito sem discriminação. Embora desde 1999 haja uma portaria do Ministério da Educação, a Portaria nº 1.679 , assegurando direitos no âmbito educativo aos portadores de alguma deficiência, apenas mais recentemente é que as instituições de ensino têm se estruturado a fim de cumpri-la. Hoje, a instituição com o maior número de surdos no país é a Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), no Rio Grande do Sul, com 85 alunos em 23 cursos diferentes.
Estruturar-se para incluir o surdo na universidade implica, em primeiro lugar, na contratação de profissionais intérpretes que possam acompanhar o aluno durante as aulas, interpretando em Libras ( Língua Brasileira de Sinais, considerada a segunda língua oficial do país) todo o conteúdo passado pelo professor em classe. Este direito é assegurado pelo MEC através da mesma portaria. (Atenção: todos os alunos surdos que precisam de um intérprete para compreensão do conteúdo ensinado em sala de aula podem exigir da instituição de ensino a contratação de um intérprete).
Mas é realmente possível interpretar todas as palavras e até mesmo termos técnicos em Libras? "Sim, interpreto tudo. Para os termos que ainda não possuem sinais correspondentes em libras, eu faço o alfabeto manual e crio, junto com o aluno surdo, um sinal específico para aquela palavra. Assim, da próxima vez que o professor usar o termo já teremos um sinal para ela", explica o pedagogo e intérprete das Faculdades e Centro de Formação Tecnológica Radial e da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), Rafael de Arruda Bueno José Miguel.
A doutora em Educação e professora do Departamento de Estudos Especializados em Educação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Gladis Perlin, ela própria surda, vai mais além. "A língua de sinais tem todos os mecanismos para transmitir conceitos ou palavras compreensíveis. Com ela podemos discutir conceitos epistemológicos, teorias ou mesmo usar nosso lado poético", explica. "Acredito na potencialidade da língua que uso", afirma.
A necessidade, portanto, em contratar o intérprete para a sala de aula se dá pelo fato de os alunos surdos, além de obviamente não escutarem o que o professor diz, não terem domínio da leitura labial e nem da Língua Portuguesa. "Embora estejam cercados pelo Português, eles têm dificuldade de leitura, pois não conhecem muitas palavras. Isto acontece porque eles não as utilizam no dia-a-dia", explica Rafael.
Vestibular em Libras
Por conta desta dificuldade de leitura é que a inclusão do surdo na universidade exige, além do intérprete, um vestibular especial. "O surdo entende algumas palavras do exame, mas como não domina o Português, tem dificuldade de compreensão da prova. Por isso, no vestibular, é importante também a presença do intérprete para realizar em Libras a leitura das questões", explica o intérprete da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo) e presidente da Associação dos Intérpretes e Guia-intérpretes do estado de São Paulo, Ricardo Sander.
Embora isto seja necessário, nem todas as instituições que já têm alunos surdos em seus quadros realizam um vestibular especial. O exemplo da Ulbra ainda não tem muitos seguidores. A prova, feita em uma sala separada com intérpretes, também recebe cuidado especial na hora de sua correção. "Temos uma doutora em Lingüística especialista em Libras que é responsável pela orientação dos professores para que estes corrijam a redação de forma correta", conta o coordenador do Ipesa (Instituto de Pesquisa em Acessibilidade) da Ulbra, o também intérprete e sociólogo, Ottmar Teske.
A correção da prova deve ser feita de maneira diferente, porque a construção da frase em Português pelo surdo é feita de maneira distinta do ouvinte. "Eles não usam tempo verbal e nem preposições", Teske cita como exemplo.
O trabalho da Ulbra com os alunos surdos começou em 1995, bem antes da portaria obrigatória, já que a instituição tem escola de primeiro e segundo graus com alunos com necessidades especiais. "Foi um espaço conquistado pelo movimento social", afirma Teske. Este ano foram 18 candidatos surdos no vestibular da instituição, e apenas a metade deles foi aprovada.
Ainda que seja a universidade com o maior número de alunos surdos, a procura é baixa, levando-se em conta que aproximadamente 2% da população brasileira é surda. Deste número, pouco mais de 1% se comunica por libras. Por isso a importância do intérprete que, em grande parte das instituições não é contratado para a função que exerce, mas em vagas de professores substitutos. "É praxe dizer que talvez seja melhor assim que nada, mas isto não está valorizando o profissional. O ideal é que nossas universidades o contratem em vagas específicas", defende a professora da UFSC, Gladis Perlin.
Gladis, que se diz realizada na profissão, dá aula na UFSC em Libras, tanto na graduação quanto na pós. "Minha disciplina visa o ensino da língua de sinais aos alunos ouvintes e requer professores surdos para isso. Na medida do possível levamos o aluno para uso desta língua, suprimindo o uso da língua oral. Os intérpretes atuam em alguns momentos, mas apenas para expor o programa da disciplina ou para considerações iniciais", explica.
Os intérpretes também têm um papel essencial na integração dos alunos surdos com os colegas e professores. Algumas instituições tentam minimizar o problema oferecendo cursos de libras para a comunidade acadêmica, a fim de que alunos, professores e funcionários também aprendam a se comunicar na língua de sinais. Com o tempo, a diferença fica bastante minimizada. A coordenadora pedagógica da área de surdez das Faculdades e Centro de Formação Tecnológica Radial (a entidade conta com quase 20 intérpretes em seu quadro), Ana Lídia Bastos Thalhammer, ela também surda, conta que hoje, 10 anos depois de sua contratação para assessorar professores sobre a deficiência dos alunos e as dificuldades destes em acompanhar as aulas, a convivência é tranqüila. "Na instituição todos já sabem que temos uma estrutura montada para o atendimento a estes alunos especiais e respeitam as limitações destes", conta.
Mais inclusão
Além da contratação e valorização do intérprete na instituição de ensino, há muitas outras atitudes a serem consideradas para a inclusão do aluno surdo. "A inclusão dele na universidade concorre para a inclusão social no geral", afirma Gladis. "Não estou dizendo que se deve integrar de qualquer jeito, mas que é necessário criar programas para o surdo entrar na universidade. O programa de conscientização para a diferença que caracteriza a alteridade surda precisa estar presente", defende a professora.
A posição ofical da Ulbra, segundo Teske, é de que a deficiência não está nas pessoas, mas na estrutura. "A inclusão é obtida se a universidade se incluir. Isto quer dizer que todos os funcionários, professores, reitor, pró-reitores e alunos precisam ter consciência de que a pessoa com deficiência é como qualquer outro estudante", afirma. O Ipesa está empenhado agora no projeto "Cantando as diferenças", que tem como premissa trazer ao conhecimento da sociedade e do estado as necessidades dos alunos com deficiências, através do trabalho cultural e social. "Se há deficiência, não é da pessoa, é da universidade", diz Teske.

2 comentários:

soramires disse...

Por favor não esqueçam o grande número de deficientes auditivos póslinguais, pessoas da terceira idade, pessoas que usam aparelhos auditivos ou implantes, gente que pode ouvir com ajudas técnicas e que lê e escreve em português.Não encontro nenhuma informação brasileira a respeito deste equipamento tão difundido na Argentina. "Aro Magnético" ou "hearing loop" tão difundido na Argentina, Europa, Austrália, EUA.Não acho justo que na Argentina eu possa acompanhar concertos, cinema, conferências, cultos religiosos, etc usando meu aparelho auditivo e aqui no Brasil quando pergunto sobre o equipamento ninguém sabe me responder se existe, que nome tem, etc.Como deficiente auditiva peço que as políticas públicas e normas de acessibilidade levem em conta este equipamento tão útil para quem usa implante ou aparelho auditivo.Nem todo surdo conhece LIBRAS.

soramires disse...

Para conhecer mais sobre os SULP - Surdos Usuários da Língua Portuguesa:
www.sulp-surdosusuariosdalinguaportuguesa.blogspot.com