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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Acessibilidade física é o desafio

Saiba como as instituições de Ensino Superior têm se preparado para receber alunos portadores de deficiência física

Publicado em 13/04/2005 - 02:00

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Acessibilidade física é o desafio

Em busca de inclusão social plena
Sinais da inclusão

Quando os edifícios das universidades foram projetados e construídos, não houve, salvo em raros casos, a preocupação de como seria o dia-a-dia de pessoas com algum tipo de deficiência física. Nos dias atuais, felizmente, isso se tornou um problema a ser urgentemente contornado. Já não era sem tempo.
Segundo o Censo realizado pelo IBGE em 2000, dos 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, apenas 3,2 milhões freqüentaram algum tipo de escola. Este número cai para 700.000 quando se trata de portadores com deficiência com idade entre 18 e 29 anos, idade média de ingresso no Ensino Superior.
Enquanto para a inclusão dos surdos na universidade são necessários intérpretes nas aulas (conforme mostra a reportagem Sinais da inclusão), e dos deficientes visuais, no mínimo uma sala de apoio equipada com uma máquina de datilografia braile ou computador com impressora braile (conforme mostra a reportagem Universidades se adaptam para receber e manter seus alunos deficientes visuais), no caso dos deficientes físicos é necessário o mínimo: permitir que eles consigam chegar até a sala de aula. Tudo isso, hoje, já é previsto e obrigatório por lei. Cabe às universidades apenas fazer a adaptação de seus ambientes.
"Aqui na universidade temos um programa que procura dar apoio às pessoas com necessidades especiais já funcionando há quatro anos. Temos em torno de 20 alunos com algum tipo de deficiência física freqüentando a universidade", conta a pedagoga e integrante do NAPNE (Núcleo de Apoio Psicopedagógico às Pessoas com Necessidades Especiais) da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), Miriam Cristina de Frey Lira. As universidades agora correm contra o tempo. "A dificuldade maior sempre passa pela questão da acessibilidade física. A questão das barreiras arquitetônicas ainda é bastante grande em praticamente todos os espaços, em qualquer tipo de instituição. A Univali tem procurado, nas suas construções mais novas, obedecer normas de acessibilidade. Nosso problema maior é em relação aos prédios mais antigos, que não estão adaptados", explica Miriam. A acessibilidade física, na verdade, vai mais além. Não basta que todos os prédios de determinada universidade possuam elevadores se o aluno não tiver meios de chegar até a faculdade. "Não é só uma questão da escola estar preparada, tem que haver transporte para esse aluno chegar até a escola. Nem todas as famílias têm acesso a carro, e o transporte público adaptado também é muito pouco. Então ainda há muitas outras dificuldades", lembra a socióloga e coordenadora da Rede Saci-USP, Marta Gil. A Rede Saci atua na comunicação e difusão de informações sobre deficiência, visando estimular inclusão social e cidadania. Além disso, a socióloga ressalta que quando o aluno portador de alguma limitação física ingressa na universidade, ele quer ter acesso à vida universitária como um todo e não apenas à sala de aula. "Ele vai querer freqüentar um Diretório Acadêmico, a praça de esportes, uma lanchonete onde todos se reúnem, a biblioteca. Esse estudante precisa circular pelo ambiente todo da universidade", explica. Marta conta que na USP existe uma van adaptada que facilita a locomoção dentro do campus."O deficiente físico, na verdade, não tem uma dificuldade grande para o acesso em nível educacional, ele tem mais problemas com as barreiras arquitetônicas. Essa é uma questão com a qual a gente vem lutando há anos. Claro que existem as partes mais velhas, onde realmente é impossível por conta das escadas, mas estamos mudando isso nas construções mais recentes", conta o coordenador do Propae (Programa Interdisciplinar de Pesquisa e Apoio à Excepcionalidade) da UEM (Universidade Estadual de Maringá), Valter Augusto Della Rosa. O Propae começou em 1994 e tem uma característica bastante interessante, porque reúne várias áreas da universidade trabalhando juntas para facilitar o acesso e a permanência dos estudantes com necessidades especiais. "Engenharia, pessoal que trabalha com mobiliária, Arquitetura, Educação Física. Também os geneticistas, educadores, psicólogos e advogados. Todos estes especialistas trabalham em conjunto", avalia Della Rosa.
Na pele
O aluno do 3º ano de Jornalismo da USP, Leonardo Feder, de 20 anos, é cadeirante e conta que as principais dificuldades na universidade são, além da condição de acessibilidade difícil em alguns locais, fazer as disciplinas práticas do curso de Jornalismo. "Temos que cobrir eventos que acontecem na USP em horários e locais que na maioria das vezes não me são adequados. Acabo não podendo fazer a atividade, embora seja de minha vontade. Escolho aqueles eventos que posso cobrir. O desafio maior é me arriscar mais pela faculdade e pela cidade e sair das situações mais tradicionais, desbravando de forma mais intensa as possibilidades que a vida oferece", conta Feder.Recentemente o estudante teve um problema com o prédio da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes). Ele estava matriculado em uma disciplina optativa que acontecia em um anfiteatro que não possuía acessibilidade, a não ser por escadas. Leonardo requisitou a troca da sala, mas a ECA alegou que não poderia efetuá-la porque os equipamentos necessários à explanação da matéria só se encontravam naquele anfiteatro. Segundo o aluno, ele foi aconselhado a escolher outra disciplina optativa para cursar. "Ouvi falar de um deficiente na Faculdade de Educação que passou pelo mesmo problema e está acionando a justiça. Não tenho notícias sobre outros casos, mas ouvi dizer, pelos meus amigos, que a situação de acessibilidade em alguns locais da USP ainda é bem precária", avalia. ConvívioNão é apenas a acessibilidade física que deve ser levada em conta. Os alunos e professores também devem aprender a se "adaptar" a esses colegas com limitações físicas. "Os professores também precisam conhecer sobre as necessidades desses alunos. Às vezes é preciso ter algum software adaptado. Outras vezes o software é o mesmo, mas o mouse, adaptado. Varia bastante de caso a caso, mas o que a gente acha legal é que a universidade, como um todo, esteja aberta e pergunte para esse aluno quais são as necessidades dele", ressalta a coordenadora da Rede Saci-USP. As barreiras de atitudes envolvem concepções e formas de encarar as diferenças, por isso nem sempre são fáceis de serem rompidas. "Acredito que estamos em uma direção melhor", aponta Miriam, da Univali. Segundo ela, hoje os membros do NAPNE possuem uma larga experiência em lidar com pessoas com necessidades especiais e, por conta disso, procuram estar próximos dos professores dando o apoio necessário. "Acredito que a pessoa com deficiência física, por não existir tantas barreiras de comunicação, como no caso da pessoa surda ou cega, possui um relacionamento não tão complicado", pondera a pedagoga. Feder conta que sentiu-se confortável quando entrou na USP. "Senti uma boa receptividade de colegas e professores que, claro, estranharam no começo, já que não é muito comum ter um colega ou aluno que usa cadeira de rodas, mas depois tudo transcorreu normalmente", relembra."Na minha concepção não é que as pessoas são maldosas, querem discriminar, é pura falta de informação mesmo. Se você não tem um caso de deficiência em família, não tem muita convivência, não sabe lidar, fica sem graça, não sabe como perguntar, ajudar. Quando você começa a ter colegas com deficiência, e a conviver com eles, a coisa se torna muito natural", explica Marta Gil.Para quebrar essa barreira, a UEM conta com uma iniciativa chamada "Monitor Especial". Através dela, um aluno da mesma sala do portador de necessidade especial, escolhido através de um processo seletivo e que, portanto, mostra interesse pela questão, será uma espécie de monitor para o colega em troca de uma bolsa por seu trabalho. Ele deve ajudá-lo a tirar fotocopia de material recomendado, estudar junto ou apenas estar disponível para auxiliar no que for necessário. Mercado de trabalhoDepois da inclusão no Ensino Superior, existe a questão do ingresso no mercado de trabalho. "Muitos alunos com deficiência física que estudam aqui estão no mercado de trabalho e outros estão em busca. Nós temos um grupo de pessoas desenvolvendo um projeto de inserção destes alunos na vida profissional, fazendo parcerias e pesquisando junto às empresas as necessidades destas e a possibilidade de empregar estes recém-formados", relata a professora da Univali.A coordenadora da Rede Saci-USP lembra de um caso muito marcante que exemplifica a dificuldade, mas não a impossibilidade, de um aluno com deficiência física conseguir um emprego. "Um exemplo que eu posso citar é de um rapaz que ficou tetraplégico depois de um acidente com arma de fogo. Quando foi fazer o curso de Administração na FGV-SP já estava totalmente paralisado. A FGV resolveu encarar o desafio e fez uma série de adaptações. O aluno fez um estágio e depois foi contratado por uma multinacional, onde está até hoje. Ele foi uma pessoa que se empenhou, não foi contratado pela deficiência, mas pela eficiência". Olhar"Sou bastante otimista, acho que já se nota a conquista. A tendência é começar a melhorar a inclusão dos deficientes físicos na educação, porque a conscientização e as informações que a sociedade está recebendo estão fazendo com que as pessoas percebam que existem pessoas com deficiência, mas ainda falta muito para acontecer", lembra Marta, da USP.A pedagoga da Univali acredita que houve um avanço, pelo menos no sentido da inserção das pessoas com necessidades especiais nas escolas, porém ainda são necessárias algumas pesquisas com dados fidedignos para se fazer uma análise melhor de como isso está ocorrendo. "O fato dos alunos estarem na escola não significa realmente que eles estão sendo beneficiados nesse processo de inclusão. Teríamos que pesquisar e analisar se a forma como está ocorrendo no Brasil está atingindo os objetivos que foram propostos inicialmente. Para que essas crianças e jovens estejam na escola, mas efetivamente fazendo parte daquela comunidade educativa e não apenas presentes", verifica Miriam, da Univali.Na UEM, o deficiente físico tem um prazo mais ampliado para fazer o vestibular, desde que requisitado. A universidade possui sala separada, com as condições de carteira adaptada e acessibilidade. "Tudo começa aí, no acesso à universidade. E, com o Propae, passamos a dar suporte para permitir que ele permaneça na instituição", diz Della Rosa. "Nós, enquanto cidadãos, temos que ter um outro olhar sobre os deficientes físicos, aí sim as coisas efetivamente podem começar a mudar".

Fonte:
http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?id=6660

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