Este espaço é para ser compartilhado entre aqueles que acreditam que incluir é respeitar o outro e a si mesmo, contribuindo para a construção de uma sociedade justa e plena! "Este espacio es para ser compartido por quienes creen que incluir y respetar a otros o a así mismos, contribuye a construir una sociedad más justa y plena" Prof. Saulo C Silva

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Resenha: Educação Especial: Múltiplas Leituras e Diferentes Significados.

Amigos,

Convido-os a lerem a resenha do livro:

Educação Especial: Múltiplas Leituras e Diferentes Significados

Abraços

Prof. Saulo C Silva

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Silva, Shirley e Vizim, Marli (orgs.) 2001. Educação Especial: Múltiplas Leituras e Diferentes Significados. Campinas: Mercado de Letras.

O livro é estruturado da seguinte forma: uma apresentação e oito artigos.

Na apresentação, as autoras – sob o enfoque da educação especial - preocupam-se em mostrar que o termo deficiente, quando empregado genericamente, acaba gerando o que chamaram de “pasteurização” das pessoas. Conseqüentemente, adotam-se práticas únicas para seres sócio-históricos diferentes.
Porém,contrariamente a esta postura, é preciso discutir que a inclusão dos indivíduos com necessidades especiais deve passar pelo processo das múltiplas leituras reveladas nas vivência de cada um.
A situação de exclusão que vivenciam essas pessoas não se restringe à vida escolar, mas agrava-se no cotidiano estendendo-se para a sua vida social.


No primeiro artigo: As linguagens da cidadania, Kruppa procura discutir a resignificação do eu e do outro em um “nós” com direitos iguais. A chamada “cidadania do nós” só se concretiza com o cidadão ativo e criador de um espaço reinvindicatório. Partindo-se dessa idéia, deve-se conceber a escola inclusiva, a partir da Declaração de Salamanca. Essa escola (pública) deve ser gerida a partir da conscientização de que a participação da sociedade é fundamental na sua construção sem , contudo, deixar de haver a desobrigação do Estado para a sua manutenção.

Escola e cidadania em uma era de desencanto , escrito por Gentili, é o segundo artigo desse livro. O texto é subdividido em quatro partes. Na primeira, o autor procura mostrar que o desencanto é fruto das frustrações históricas de um pseudo-socialismo que naufragou junto com a ex-União Soviética. Esse desencanto parece contagiar uma juventude que objetiva apenas o consumo e o individualismo. Na segunda parte, Gentili enfatiza que o sistema educacional não está imune a esse desencanto. Denuncia que a Escola Pública sofre os efeitos de políticas governamentais empenhadas no corte de investimentos nas áreas sociais. Na terceira parte, chama a atenção para a indiferença manifestada dessa sociedade diante da miséria em que vivem milhões de brasileiros, principalmente crianças às quais são negadas as mínimas condições de dignidade. Na quarta parte, revela o número alarmante de excluídos – na sociedade brasileira. Denuncia, dessa forma, a perversa hierarquização de valores instituída que vê como “natural” a existência daqueles que podem e não podem ser cidadãos.

No terceiro artigo intitulado: A incorporação das tecnológicas na educação especial para a construção do conhecimento , de Rosita Edler Carvalho, pode-se observar a preocupação da autora no emprego das novas tecnologias nas estratégias de ensino. Questiona como a escola poderia incorporar essa nova tecnologia que na maioria das vezes é custosa para o ensino público. Defende a idéia de que essa tecnologia deve estar disponível para o aperfeiçoamento do ensino sem, contudo, desconsiderar a importância do professor nesse processo. Carvalho, sob o enfoque da educação especial, chama a atenção para a necessidade de se conceber a informática e as tecnologias de informação como aqueles instrumentos que poderão auxiliar na melhoria do ensino-aprendizagem dos alunos definidos em seu trabalho como: educandos com necessidades educacionais especiais.

O próximo artigo: Perspectivas políticas e pedagógicas da educação para surdos, de Carlos Skliar, discute as mudanças ocorridas na educação para surdos. Essas mudanças ocorreram desde as perspectivas ideológicas – representada na fragmentação dos modelos clínicos e terapêuticos – até a organização escolar. Para o autor, as mudanças mais profundas e significativas foram a difusão de modelos de educação bilíngüe/bicultural para surdos; as mudanças nas representações de significados – políticos – sobre a surdez e os surdos e a inversão epistemológica do que constitui o “problema” da surdez.
O seu artigo objetiva discutir essas três contribuições (mudanças mais profundas) trazendo à tona a necessidade de se refletir alguns dos problemas e dos avanços mais significativos, atualmente, na educação para surdos.

O quinto artigo é intitulado: Faces e contra faces: o diferente no escrito - uma leitura psicanalítica do livro-ensaio sobre a cegueira, de José Saramago. Leny Magalhães Mrech procura traçar uma crítica – sob a ótica da psicanálise - na qual fica evidenciada que a cegueira de boa parte da sociedade contemporânea não é física, mas vai além dos olhos materiais.
Ao usar como pano de fundo a obra de Saramago, a autora procura mostrar a necessidade do homem perceber a si e ao outro como sujeitos. Para isso, ela suscita o questionamento das concepções de visão do senso comum e da ciência. Assim, torna-se urgente se repensar as práticas do Ensino Regular e a responsabilidade dos seus educadores na formação de indivíduos participativos. Paralelamente, contrasta a esse panorama a educação inclusiva que apresenta professores e alunos interessados na busca de um aprendizado, de um novo olhar sobre a vida!
Finaliza, enfatizando que por meio da arte, Saramago consegue antever uma sociedade que não é regida só pelo consumo, mas que se preocupa também com o seu semelhante.

A diferença corporal na literatura: um convite a “segundas leituras”. Neste sexto artigo, sua autora, Lígia Assumpção Amaral, reflete a respeito da subjetividade e que foi traduzida na sua fala por um “encontro” - mediado pelos elementos do ambiente sócio-cultural – entre autor e leitor. Durante a leitura, percebe-se a preocupação em marcar a importância da percepção da obra de arte sob um olhar crítico, reconstrutor de sentido. Um ponto importante – se não fundamental - na discussão proposta é a presença da diferença significativa na obra literária. A autora considera que essa diferença – construída - desperta emoções que vão servindo de ‘matéria-prima’ de preconceitos favoráveis e desfavoráveis. Sob o ponto de vista de Vygotsky, chama a atenção para se estar atento às inúmeras e inesgotáveis possibilidades simbólicas que a obra de arte proporciona.

O sétimo artigo: A linguagem: elemento fundante na integração escolar da pessoa com deficiência mental é de autoria de Marli Vizim. Nele, a autora discute a responsabilidade e a complexidade de se construir uma escola que tenha o compromisso de incluir – não apenas fisicamente – mas sócio-historicamente o aluno com deficiência mental.
Para tanto, ressalta a necessidade de o professor conhecer a importância da linguagem no processo de estruturação do pensamento do indivíduo. Denuncia que a delimitação da capacidade das pessoas com deficiência mental é um erro que se reflete em injustiça social. O trabalho pedagógico em sala de aula não deve se caracterizar pela memorização de conceitos estáticos , desvinculados da realidade. Defende a idéia de que o discurso pedagógico do professor diante do conhecimento e a maneira como ele encaminha o sujeito nesse universo deve pautar-se por meio da valorização das metáforas, pois - reproduzindo Lakof (1986. p. 236) - diz que a metáfora é um dos nossos instrumentos mais importantes para tratar e entender parcialmente o que não se pode entender em sua totalidade.

O oitavo texto Educação especial – entre a técnica pedagógica e a política educacional, de Shirley Silva, procura alinhavar a relação existente entre as políticas educacionais (processo político e objetivos educacionais) e o desenvolvimento de um trabalho de qualidade com pessoas com necessidades especiais.
Na visão da autora, a educação especial, no Brasil - e em outros países, tem sido compreendida a partir de uma concepção delimitadora e subordinada às políticas sociais públicas. Cria-se, dessa forma, uma “intersecção” que define modelos intervencionistas em educação especial, institucionalizando organismos e práticas sociais que perpetuam idéias segregacionistas.
É preciso romper com posturas conservadoras e paternalistas buscando-se um posicionamento reflexivo que ultrapasse os limites da discussão: segregação-integração, criando-se conseqüentemente ferramentas de acesso à cidadania.

Por/By: Saulo César da Silva (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Centro Universitário Álvares Penteado. E-mail: saulocesar@uol.com.br)

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